5º Congresso Internacional Huntington de Medicina Reprodutiva traz as ideias mais recentes relacionadas à Reprodução Humana

Especialistas de vários países, entre eles Estados Unidos, Bélgica, Espanha, Dinamarca e Inglaterra, discutiram sobre capacitação científica, impactos das técnicas de IA na Reprodução Assistida, futuro da seleção embrionária e estratégias para melhorar o futuro de pacientes de oncofertilidade

Nos dias 12 e 13 de maio, renomados palestrantes de vários países se reuniram novamente para debater o futuro da Reprodução Assistida no 5º Congresso Internacional Huntington de Medicina Reprodutiva, que aconteceu em São Paulo. O Congresso, realizado a cada dois anos, voltou a ser 100% presencial, com a organização de conceituados profissionais do Grupo Huntington. Ainda que tenha retomado a modalidade presencial, o registro de todas as aulas está disponível no site www.congressohuntington.com.br.

Em sua Comissão Científica, a 5ª edição do Congresso contou com importantes nomes do Grupo Huntington: Dra. Aline Lorenzon, gerente de pesquisa; Dra. Claudia Gomes Padilla, especialista em Reprodução Assistida e coordenadora da Unidade Ibirapuera; Dr. Eduardo Motta, cofundador da Huntington; Dr. João Pedro Junqueira Caetano, diretor médico do Grupo; José Roberto Alegretti, diretor de Embriologia; Dr. Maurício Chehin, diretor científico; Dr. Ricardo Marinho, diretor científico da Huntington Pró-Criar; e Dra. Thais Domingues, especialista em Reprodução Assistida e coordenadora do Centro de Reprodução Humana Santa Joana.

Na abertura, o Dr. Eduardo Motta deu as boas-vindas aos participantes: “Criamos o Congresso para trazer conhecimento e que pudesse ajudar na prática do dia a dia. É um prazer discutir o que é futuro na Medicina Reprodutiva”, disse. Para o Dr. João Pedro Junqueira Caetano, o Congresso é uma oportunidade de trocar ideias e desbravar os limites da Reprodução Assistida. “Nossa missão é atender casais e temos o propósito de avançar na Medicina Reprodutiva com as conquistas na área.” Eduardo Gonzalez, CEO do Eugin Group, grupo internacional do qual o Grupo Huntington faz parte, também discursou no início do evento. “Ficamos muito tranquilos com nossas operações na América Latina e vamos continuar investindo nesses países”, disse, citando o Brasil como parte fundamental do Grupo.

Discussões científicas

Michel De Vos, diretor-médico sênior da UZ Brussel-VUB, Bélgica, abriu a programação científica com a palestra “O envelhecimento reprodutivo e o futuro da criopreservação social de gametas” e falou sobre ferramentas que ajudem a mulher a decidir por preservar os oócitos e a importância de oferecer informações sobre reserva ovariana e fertilidade. “Observamos que a sociedade mudou. Mulheres têm filhos mais velhas, devido a condições estressantes em ter um filho na nossa sociedade atual. Com isso, a proporção de mulheres que têm filhos após os 35 anos está aumentando em todo o mundo. Com a disseminação dos testes de reserva ovariana, como o hormônio anti-mulleriano, como forma de checkup da fertilidade, as mulheres têm ficado mais atentas à possibilidade de congelar seus óvulos. As mulheres têm mais benefícios quando seus óvulos são congelados entre 30 e 35 anos. Estudos mostram, ainda, que uma mulher que congela seus óvulos até 39 anos de idade tem uma chance maior de conseguir ser mãe após os 40 anos.” 

Manuel Viotti, cientista sênior na Zouves Foundation (Estados Unidos), abordou sobre “Edição do genoma de linhagem germinativa – presente ou futuro?”, e discorreu sobre as técnicas e ferramentas para a edição do genoma, apresentando três estudos sobre a edição genômica em humanos. “Tecnicamente, não estamos prontos para a edição genômica nos humanos.” Ele diz que a Organização Mundial da Saúde (OMS) faz recomendação contra a edição genômica e que a demanda clínica existe, mas que, do ponto de vista ético e jurídico, é veementemente descartada.

Outro debate foi sobre como os modelos de organoides podem ajudar no trato do processo reprodutivo feminino e masculino na palestra “O presente e o futuro dos organoides na reprodução”, de Graham J. Burton, professor emérito da Universidade de Cambridge (Reino Unido), cientista reconhecido por sua pesquisa sobre o estabelecimento e desenvolvimento da gestação em humanos.

À tarde, Stine Kristensen, pesquisadora responsável pelo laboratório de Biologia da Reprodução na Universidade de Copenhagen (Dinamarca), falou sobre os avanços da cultura de folículos, que já vem sendo feita há décadas com pesquisas em camundongos, em sua apresentação “Desenvolvimento de folículos in vitro a partir de tecido ovariano”. 

Inteligência artificial (IA) na Embriologia

Charles Bormann, diretor do Laboratório de FIV no Massachusetts General Hospital (Boston) e professor assistente de Obstetrícia e Ginecologia na Harvard Medical School (Estados Unidos), abordou sobre “O futuro da Reprodução Assistida: a era da inteligência artificial”. A análise visual para o preparo da técnica de FIV é uma das chaves do trabalho do embriologista, e a IA poderia auxiliar nesta análise. “Queríamos desenvolver um sistema para contagem de espermatozoides em casa”, afirma ele. Com a técnica deep learning, puderam desenvolver uma forma de avaliar a morfologia do espermatozoide. Além disso, a IA é usada na técnica de ICSI e na avaliação da fertilização. Bormann falou sobre a IA ser uma forma não invasiva para avaliar o embrião. A tecnologia é uma das apostas para melhorar o sucesso da FIV, podendo ser usada em várias etapas. Na “Sessão Embriologia”, Bormann continuou sua aula sobre o impacto da IA em sua apresentação “O futuro do cultivo embrionário em laboratório”. “O uso da IA é uma boa ferramenta, que funcionaria como ‘vários olhos’ para a seleção na observação de imagens por time-lapse. Pode nos ajudar a uniformizar decisões e classificações, além de dar indicadores de desempenho. A ideia é poder acompanhar a célula de forma individual”, conclui.

José Celso Rocha, professor e chefe do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (UNESP), continuou o tema de Bormann e falou sobre “Algoritmos de IA para seleção embrionária”, ou seja, o início de trabalho com o uso da tecnologia no campo da Reprodução. “Como aplicar inteligência artificial na seleção embrionária? Precisamos de um algoritmo computacional para extrair do embrião variáveis que mostrem sua morfologia”. Rocha também falou sobre a interface gráfica feita em conjunto com a Huntington Medicina Reprodutiva, que dá suporte para a classificação do melhor embrião.

Sessão clínica sobre endométrio e receptividade endometrial 

Tiffany Stankewicz, diretora global de produtos para endométrio da Igenomix (Estados Unidos), palestrou sobre o processo de implantação: embrião e endométrio. “Nas últimas décadas, nos empenhamos em melhorar ao máximo o cultivo embrionário, porém, falta avaliar o outro fator desta equação: o endométrio, que desempenha papel-chave no processo de implantação.” Stankewicz ainda discorreu sobre a importância da avaliação do microbioma endometrial. Sonny Sierra, médica sócia da clínica TRIO Fertility de Toronto (Canadá), deu continuidade ao tema de Tiffany e frisou a importância de um endométrio receptivo para o sucesso de uma gestação, além de discorrer sobre os problemas de receptividade do endométrio e falhas de implantação.

Dia 13/05, segundo dia

No segundo dia de Congresso, Alan Thornhill, especialista sênior em Genética Reprodutiva na Igenomix (Reino Unido), falou sobre “A perspectiva atual do PGT não invasivo” e discursou sobre a análise cromossômica do embrião por meio da análise do meio de cultura e sobre os benefícios, os desafios e as limitações deste processo.

Na apresentação “O potencial reprodutivo de embriões mosaico”, o Dr. Manuel Viotti (Estados Unidos) fez uma avaliação ampla sobre a ocorrência do mosaicismo e sobre os dados existentes de transferência e nascimento de bebês diagnosticados como mosaicos após o teste genético pré-implantacional para aneuploidia (PGT-A). Ainda neste tema, Mina Popovic, PhD, geneticista e diretora científica do Grupo Eugin em Barcelona (Espanha), apresentou o trabalho que vem fazendo sobre o impacto do diagnóstico do mosaicismo no PGT-A. Ela mostrou uma grande inconsistência entre os provedores dos testes de PGT-A para o diagnóstico de mosaicismo, o que reflete na proporção de embriões aptos à transferência em diferentes clínicas ao redor do mundo.

Nas discussões, os convidados falaram que ainda precisamos entender sobre as novas tecnologias que estão surgindo e como devemos interpretá-las. Foram levantadas questões como “PGT-A não invasivo vai substituir o invasivo?”. De acordo com Alan Thornhill, os dois exames podem coexistir nas clínicas. 

Graham J. Burton (Reino Unido) falou sobre os mecanismos não revelados da implantação embrionária. Ele mencionou diversos fatores que são fundamentais para o sucesso da implantação, mas que ainda não conseguimos abordar clinicamente por falta de testes apropriados.

Stine Kristensen (Dinamarca), em sua palestra “O futuro da oncofertilidade”, reforçou sobre a importância de melhorar os tratamentos de oncofertilidade, principalmente no pós-câncer, e as técnicas de preservação da fertilidade, que vai além da criopreservação de óvulos. A especialista apresentou um estudo com sobreviventes de câncer de mama com 497 mulheres. Como resultado, 47% engravidaram e tiveram altas taxas de sucesso. “Podemos oferecer técnicas para maximizar a taxa de gestações e otimizar o que conseguimos em cada ovário de cada paciente. Para as mulheres que voltaram após o tratamento, oferecemos a oportunidade de engravidar naturalmente após transplante do tecido ovariano”, afirma.

Na palestra “Novas perspectivas sobre maturação in vitro de oócitos”, Michel De Vos (Bélgica) fala das evidências que já se tem sobre a maturação do ponto vista laboratorial, e aponta o IVM (in vitro maturation) como uma opção para mulheres. “IVM é uma abordagem mais leve de reprodução e pode ser usada em pacientes de oncofertilidade. Mas ainda precisamos aprimorar mais esta técnica para que pacientes com câncer tenham mais chances de sucesso caso necessitem utilizar essas amostras no futuro”, frisa.

A tecnologia é uma das apostas para melhorar os resultados de tratamentos de Reprodução Assistida. Nas discussões finais, sobre o futuro da oncofertilidade, os convidados debateram sobre o desenvolvimento de um algoritmo que permitisse estimar de maneira mais assertiva as possibilidades de a paciente evoluir em sua fertilidade. 

Em um último painel de discussão, coordenado pelo Dr. Eduardo Motta e pelo Dr. Mauricio Chehin, os participantes puderam ter a chance de fazer perguntas a qualquer um dos palestrantes do Congresso, o que gerou debates sobre os mais diferentes temas da Reprodução.

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