Márcia Mendonça Carneiro – Diretora Científica – Clínica Origen / Professora Titular- Departamento de Ginecologia e Obstetrícia – Faculdade de Medicina da UFMG
O congelamento (criopreservação)de embriões é um procedimento desenvolvido há cerca de 40 anos que melhora as taxas de gravidez em ciclos de fertilização in vitro (FIV). Os ciclos de congelamento e descongelamento de embriões aumentaram significativamente ao longo dos anos em todo o mundo. No entanto, a relação entre a viabilidade embrionária e as taxas de implantação com a duração da criopreservação permanece obscura. Embora tenha causado alarde na imprensa leiga o nascimento de um bebê oriundo de um embrião congelado há mais de 30 anos, há ainda várias questões que precisam ser esclarecidas.
A FIV é uma técnica utilizada com sucesso há 45 anos, envolve várias fases que incluem a estimulação dos ovários, que deverá ser acompanhada por ultrassonografias seriadas e punção folicular para obtenção dos óvulos que serão posteriormente inseminados. Os óvulos fertilizados serão mantidos em cultivo até o momento da transferência do embrião para o útero e os embriões excedentes de boa qualidade são congelados. Assim, caso a primeira tentativa não funcione ou haja desejo de nova gravidez, o procedimento é simplificado e os embriões criopreservados são descongelados e transferidos de volta apara o útero. Entre as várias técnicas desenvolvidas, a vitrificação parece ser a melhor em vista da facilidade técnica e melhores taxas de sobrevivência e implantação embrionária.
Apesar do sucesso evidente registrado por inúmeros estudos científicos, questões relevantes permanecem sobre o congelamento de embriões, principalmente no que tange ao possível efeito do tempo de congelamento sobre a viabilidade embrionária e chances de gravidez. Para responder a essas perguntas, a equipe da Clínica Origen BH desenvolveu um estudo, que acaba de ser publicado na mais respeitada revista de Reprodução Humana da América Latina, o Jornal Brasileiro de Reprodução Assistida (JBRA). A análise de dados obtidos de mais de 1.500 mulheres, submetidas a ciclos de FIV com transferência de embriões congelados, revelou que que tanto o período de tempo que o embrião permaneceu congelado quanto a idade materna são fatores que afetam as taxas de implantação e gravidez. Nesse estudo, mulheres com 35 anos ou menos, no momento do congelamento e embriões congelados e transferidos num período de até 90 dias, tiveram melhores chances e gravidez. O efeito da idade materna sobre as chances de gravidez já está bem estabelecido na literatura médica, mas a possível influência negativa do tempo de congelamento precisa ser mais estudada. Os efeitos bioquímicos e físicos do congelamento sobre a estrutura embrionária poderiam explicar a redução das chances de sucesso em termos de gravidez e taxas de implantação, mas mais estudos precisam ser realizados para esclarecer a questão.
É fundamental ressaltar que o sucesso em um ciclo de FIV depende de inúmeros fatores e não obedece a regras matemáticas. O tabagismo, cirurgias ovarianas previas, fatores paternos assim como a obesidade também podem afetar adversamente a fertilidade e comprometer as chances de gravidez. Dessa forma, manter o peso saudável, não fumar, limitar o consumo de álcool e cafeína, assim como praticar atividade física regular são medidas importantes para a manutenção da saúde reprodutiva em homens e mulheres. Outro ponto fundamental é que apesar dos avanços, pode haver necessidade de uma nova transferência embrionária ou um novo ciclo de FIV para obtenção de gravidez, mas infelizmente até 25% dos pacientes desistem após uma tentativa malsucedida. Estudos revelam, entretanto, que muitas pessoas superestimam suas chances de sucesso. Persistir no tratamento, entretanto, é fundamental pois as chances de gravidez são cumulativas e aumentam com novas tentativas. Nesse contexto, a avaliação por uma equipe especializada é crucial.