DIU, implante subdérmico e SIU-LNG, que compõem o grupo dos contraceptivos de longa duração, são eficazes, evitam gravidez precoce, porém ainda há tabus sobre esses métodos e falta de acesso pela população
Mais de 380 mil bebês nasceram em 2022 de mulheres com idade entre 10 e 19 anos. Esse dado do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), do Ministério da Saúde, expõe um problema estrutural que afeta a vida de milhares de adolescentes em todo o Brasil, assim como o próprio desenvolvimento do país.
Segundo o estudo “Impactos da gravidez na adolescência no Brasil”, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), cerca de 66% das mulheres que engravidaram na adolescência não completaram o ensino médio e 63% trabalham sem carteira assinada ou estão desempregadas, demonstrando como a gravidez precoce impulsiona o aumento do que ficou conhecido como a geração “nem-nem”, referente aos jovens que não estudam ou trabalham.
Outro estudo, este do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), concluiu que 73% da geração “nem-nem” é constituída por mulheres, tendo a gravidez precoce como principal causa.
“Nós entendemos que a questão demanda atuação conjunta de muitos atores da sociedade, pois é um problema multifatorial, que precisa ser enfrentado com educação e com garantia de acesso à informação e aos métodos contraceptivos, sobretudo os de longa duração, além de garantir aos jovens mais oportunidades”, explica Lilian Leandro, cientista da computação, com atuação no terceiro setor, e cofundadora do Instituto Planejamento Familiar (IPFAM), que completa três anos no próximo dia 26 de setembro.
Na busca pela mudança desse cenário e pela redução desses tristes índices estatísticos, o IPFAM vem atuando na conscientização da população, dos profissionais de saúde e junto ao poder público nas questões relativas ao tema. Seguindo esse propósito, realiza, no período de 19 a 26 de setembro, a terceira edição da sua Campanha de Conscientização sobre Contracepção, desta vez, com o foco voltado para os métodos de longa duração (LARC, na sigla em Inglês), dos quais fazem parte o DIU, o implante subdérmico e o SIU-LNG. São métodos de alta eficácia, por não dependerem da adesão e atenção da usuária e independem do fator “esquecimento”, o que pode ocorrer com a pílula anticoncepcional, por exemplo.
O período da campanha contempla o aniversário do Sistema Único de Saúde (SUS), no dia 19, e o Dia Mundial da Contracepção, no dia 26, além de ser também a data na qual deve ser estabelecido o Dia Nacional do Planejamento Familiar, projeto de lei proposto pelo próprio IPFAM, que já foi aprovado pelo Senado e agora segue para a Câmara dos Deputados.
Também cofundadora do IPFAM, a advogada Ana Clara Polkowski ressalta o propósito social da ação. “A campanha busca trazer mais informação sobre esses métodos de longa duração, esclarecendo os mitos que ainda existem, bem como tem o intuito de chamar atenção sobre a necessidade de garantir acesso efetivo a eles em todo o território nacional e fomentar o debate sobre a inclusão de outros contraceptivos da mesma modalidade, além do DIU de cobre no SUS”.
A campanha encerra no dia 26 com uma entrevista exclusiva, pelo Spotify, com a médica ginecologista Dra. Carolina Sales Vieira, enfatizando a importância da conscientização dos adolescentes sobre os contraceptivos de longa duração. “Muitas vezes os jovens não sabem que esses métodos existem e quais suas vantagens. Mesmo quando eles conhecem, são levados a acreditar que não podem usar”, explica a médica. A ginecologista também ressalta a eficácia do implante e do DIU, e sua durabilidade, evitando gravidez por anos. “É claro que a necessidade de proteção contra as infecções sexualmente transmissíveis permanece sempre. É um autocuidado que é preciso ter, independentemente do tipo de anticoncepcional”, conclui a Dra. Carolina.
É preciso falar sobre Planejamento Familiar
Desde a fundação, o IPFAM comemora alguns avanços no segmento, como a aprovação da Lei 14.443/22, que afastou a necessidade de autorização do cônjuge para a realização de procedimentos de esterilização voluntária, autorizou a realização de laqueadura no parto e fixou o prazo de 30 dias para disponibilização de métodos contraceptivos. “Essa mesma lei reduziu a idade mínima para realização da esterilização voluntária, que agora é de 21 anos”, complementa Ana Clara.
No entanto, ainda há muito pelo que lutar. “Há contraceptivos de longa duração disponíveis gratuitamente no SUS, mas faltam profissionais de saúde treinados para o procedimento de inserção, fazendo com que os direitos da população sejam desrespeitados. Além disso, entendemos ser necessário incluir novos métodos de longa duração no rol dos disponíveis no SUS, uma vez que nem todas as mulheres podem ou desejam usar o DIU de cobre”, explica a advogada.
As fundadoras do IPFAM, contudo, se mostram otimistas. “Após três anos, o Instituto manteve seu compromisso na busca por assegurar a todo cidadão o acesso aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, com foco no planejamento familiar, por meio da informação e da educação. Com esta Campanha de Conscientização sobre Contraceptivos, e as próximas que virão, acreditamos que o IPFAM pode contribuir ainda mais para a sociedade e trazer o conceito de planejamento familiar para o dia a dia da população brasileira”, conclui Lilian Leandro.
A Campanha será veiculada nas redes sociais do IPFAM – Instagram, Facebook e LinkedIn, e também no site.