O médico urologista da Nilo Frantz Medicina Reprodutiva fala sobre a importância desse estudo
Recentemente, o resultado de um estudo que busca desenvolver um medicamento que bloqueie a ação dos espermatozóides foi publicado na revista científica Nature Communications. O teste, inicialmente feito com camundongos, mostra que a enzima utilizada na pílula não hormonal impediu que os espermatozóides nadassem, gerando um bloqueio neles.
Os resultados trouxeram esperança para que em um futuro próximo, assim como as mulheres, os homens também tenham um medicamento contraceptivo, além do uso da camisinha.
De acordo com o Dr. João Paladino, médico urologista da Nilo Frantz Medicina Reprodutiva, este novo tratamento traz uma mudança de paradigmas, já que até o momento os métodos contraceptivos masculinos resumem-se a camisinha e a vasectomia.
Paladino explica que para criar um método que não fosse hormonal, os estudiosos concentraram-se em uma proteína chamada receptor de ácido retinóico (RAR) alfa.
“A vitamina A pode ser processada de várias maneiras e o ácido retinóico, que também é pertencente a classe da vitamina, tem um importante papel na formação de espermatozoides e no desenvolvimento embrionário.
O ácido precisa interagir com o RAR-alfa para desenvolver essas funções e os experimentos mostraram que os camundongos sem o gene criado pelo receptor RAR-alfa são estéreis”, afirma Paladino.
Dessa forma, os cientistas desenvolveram uma forma de bloquear a ação do RAR-alfa e o resultado dos testes mostrou que foram reduzidas drasticamente a contagem de espermatozóides nos camundongos.
“O principal desafio em um mecanismo hormonal como contraceptivo masculino relaciona-se com a possibilidade de ser irreversível o bloqueio da produção de espermatozoides, algo parecido com o uso de anabolizante e da reposição e testosterona”, afirma Paladino.
O especialista ressalta que a princípio não se tem relatado casos de efeitos colaterais nos camundongos, com exceção da azoospermia que é o objetivo do tratamento. Mas que após o término dos testes e liberação, podem ocorrer efeitos colaterais menos frequentes.
“Todo tratamento gera resistências, seja da comunidade científica como dos usuários. Mas estamos numa sociedade que muda de valores rapidamente. Vejo a maior resistência ao método pelo fato de ser necessário uso contínuo e diário, semelhante ao anticoncepcional oral feminino, pois este modo de uso predispõe ao esquecimento e aumento das “falhas” por uso inadequado”, afirma Paladino.
O urologista reforça que de qualquer forma, a nova droga não protege contra as DST’s e isso deve ser levado em consideração na hora do uso futuramente.
“Novos tratamentos são sempre bem-vindos, entretanto precisamos aguardar a sua liberação fora do ambiente de pesquisa. Pelo lado masculino hoje estamos apenas com a vasectomia e o preservativo com o objetivo de contracepção”, finaliza o especialista.