Cirurgia intrauterina aumenta em 50% chances de sobrevivência em bebês com Hérnia Diafragmática Congênita

Referência no tratamento da patologia, o Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), realiza procedimentos de cirurgia fetal desde 2019

Considerada uma doença rara, a Hérnia Diafragmática Congênita (HDC) acomete entre um e quatro bebês a cada 10 mil nascidos vivos, conforme dados de sociedades internacionais especializadas no assunto. O problema tem como principal característica a falha no fechamento ou ausência do diafragma, o que pode levar a diversas complicações. Por essa razão, os cuidados para tratar o problema começam ainda na fase intrauterina, por meio de cirurgias de altíssima complexidade, e prosseguem a partir do nascimento, exigindo uma estrutura de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal com multiprofissionais e equipamentos de alta tecnologia para o suporte à vida. Em 2023, o Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), tratou quatro casos. No ano anterior não foi registrado nenhum procedimento; em 2021, foram três. A unidade é um dos centros de excelência do país com expertise para assistência a bebês com a condição.

O coordenador do Serviço de Medicina & Cirurgia Fetal do Vera Cruz Hospital, Dr. Renato Ximenes, destaca o pioneirismo neste tipo de tratamento. “Somos um dos poucos hospitais do Brasil que está capacitado para receber e intervir em casos que necessitem de terapia ou cirurgia fetal intraútero. Recebemos pacientes de todo Brasil que precisam de nossa ajuda”, completa.

Diagnóstico

Pediatra e neonatologista do Vera Cruz Hospital, Michelle Medeiros de Machi explica que o problema é diagnosticado por meio de exames de ultrassonografia no primeiro trimestre da gestação – entre 11 e 14 semanas de gravidez. “Com os avanços da medicina e da tecnologia, o exame possibilita a avaliação do funcionamento do músculo diafragma, que deve fazer movimentos de contração. Se isso não estiver ocorrendo, indica uma malformação. E isso pode fazer com que órgãos que geralmente se desenvolvem na cavidade abdominal, tais como o fígado, estômago, baço e o intestino, migrem do abdome para a cavidade torácica. Assim, podem comprimir os pulmões prejudicar a evolução deles, que ficam subdesenvolvidos, o que chamamos de Hipoplasia Pulmonar”, detalha.

Para os pais que recebem o diagnóstico, a esperança vem da possibilidade de corrigir o problema ainda na fase de gestação, por meio de uma cirurgia chamada de Oclusão Traqueal Fetal. “Esse procedimento é indicado para os casos mais graves, é minimamente invasivo e tem o objetivo de aumentar a sobrevida dos pacientes. É feito por meio de uma técnica de fetoscopia, ou seja, com ajuda de um endoscópio de fibra óptica”, explica Marcio Miranda, cirurgião fetal do Vera Cruz. Segundo o especialista, a literatura médica aponta que as cirurgias intrauterinas para estes casos aumentam em 50% as chances de sobrevivência. Em casos sem operação, as chances de vida são de 10%.

O procedimento, que dura em média 30 minutos, deve ser feito em ambiente hospitalar preparado e bem-estruturado, uma vez que exige anestesia peridural e sedação para a mãe, e anestesia também para o bebê. “A técnica consiste na introdução de uma câmera (fetoscopio) dentro do útero até alcançar a traqueia fetal e introdução de um balão para a oclusão traqueal. Esta oclusão, fará com que o pulmão cresça e desenvolva”, explica o especialista.

O balão ficará por algumas semanas na traqueia do bebê, tendo a função de estimular o crescimento do pulmão. Entre a 32ª e 34ª semana de gestação, o pequeno balão será removido, também por procedimento minimamente invasivo. E, ao nascer, o recém-nascido irá precisar dos recursos de uma UTI Neonatal preparada para fornecer a assistência especializada. “O tempo de internação e os recursos que cada bebê irá precisar variam de paciente para paciente, conforme se der a evolução do quadro clínico”, salienta a pediatra.

A médica explica que o comprometimento no desenvolvimento dos pulmões (Hipoplasia Pulmonar), principal consequência da HDC, pode desencadear a redução do fluxo sanguíneo para o órgão, gerar pressão alta na circulação pulmonar (Hipertensão Pulmonar) e dificuldade de oxigenação do sangue. “O tratamento deverá ser intensivo: no período neonatal, com acompanhamento multiprofissional, tendo foco em resolutividade, no caso de complicações decorrentes da HDC; qualidade de vida deste paciente; e garantindo a sobrevida. Seguindo o plano terapêutico definido, é possível ter uma vida longa, permitindo os melhores resultados possíveis”, conclui.

Evolução

“Nos últimos anos, os avanços na medicina em cirurgia intrauterina têm sido significativos, permitindo intervenções cada vez mais precisas para a correção de anomalias congênitas em fetos. São técnicas minimamente invasivas, que garantem maior segurança para a gestante e o bebê, reduzindo a ansiedade e estresse que esses casos geram aos pais e familiares. Evoluímos muito, as pesquisas são constantes e o Vera Cruz acompanha esse progresso, sempre em busca de inovações que visam melhorar os resultados e reduzir os riscos para o feto durante o desenvolvimento intrauterino”, destaca Miranda.

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