O Dia Mundial do Câncer de Ovário, celebrado em 8 de maio, é uma ocasião importante para destacar a necessidade de conscientização sobre esta doença, alerta o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA). Entre os principais pontos, a alta prevalência de mutação hereditária, que chama a atenção também para prevenção em outros membros da família
Todo câncer é genético (ocorre por transformações no DNA ao longo da vida, gerando assim as mutações neste código genético que favorecem o surgimento da doença). Porém, em 5% a 10% dos casos, esta alteração genética é herdada ao nascimento. Esse percentual atribuído a hereditariedade vale para quase todos os cânceres que acometem a maioria dos órgãos humanos. Dentre as exceções, está o câncer de ovário, cuja influência da hereditariedade no número de casos atinge os 25%, portanto, uma em cada quatro mulheres diagnosticadas com câncer de ovário. Na ausência de um exame de rastreamento – assim como a colonoscopia ou mamografia em câncer colorretal e de mama – a atenção ao histórico familiar é uma importante medida para se reduzir as taxas de diagnóstico tardio e, consequentemente, de mortalidade por tumores ovarianos. O alerta, alusivo ao 8 de maio, Dia Mundial do Câncer de Ovário, é do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA).
A maioria destes casos se enquadra na síndrome de câncer de mama e ovário hereditário, associada com mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2. “Em particular, a mutação dos genes BRCA1 e BRCA2 é bem conhecida e estudada. A paciente ter esta mutação não significa que ela está com câncer ou que irá, de fato, desenvolver a doença, mas é importante ela saber que o risco é aumentado em relação às mulheres em geral”, explica Glauco Baiocchi Neto, cirurgião oncológico e presidente do Grupo EVA.
A campanha tem como objetivo, segundo o EVA, aumentar a conscientização sobre os fatores de risco associados a esta doença, bem como destacar os avanços na pesquisa e no tratamento. É fundamental que as mulheres estejam cientes dos fatore de risco, como idade, exposição a produtos químicos, radiação, fatores reprodutivos, fatores dietéticos e metabólicos, fatores hormonais, radioterapia anterior, história familiar e hereditariedade. Com o tempo, várias mutações podem surgir em uma célula, permitindo que ela se divida e se transforme em câncer. Geralmente isso acontece com o passar dos anos e isso explica porque os tumores ocorrem em idade avançada.
As características que alertam para a síndrome de câncer de mama e ovário hereditário são:
– Uma ou mais mulheres são diagnosticadas com câncer de mama aos 45 anos ou menos ou toda mulher que recebe o diagnóstico de câncer de ovário, em qualquer idade.
– Uma ou mais mulheres são diagnosticadas com câncer de mama antes dos 50 anos com uma história familiar adicional de câncer, como câncer de próstata e de pâncreas.
– Existem cânceres de mama e/ou ovário em várias gerações no mesmo lado da família, como ter uma avó e uma tia do lado paterno diagnosticadas com esses tipos de câncer.
– Uma mulher é diagnosticada com um segundo câncer de mama na mesma ou na outra mama ou tem câncer de mama e de ovário.
– Um parente do sexo masculino é diagnosticado com câncer de mama.
– Há uma história de câncer de mama, câncer de ovário, câncer de próstata e/ou câncer de pâncreas no mesmo lado da família.
– Ter ascendência judia Ashkenazi.
Recomenda-se que essas características sejam analisadas por um serviço de Oncogenética, durante atendimento de Aconselhamento Genético. E, com isso, poderá ser solicitado um teste genético, que consiste em investigar, no sangue da paciente, a presença de uma mutação em gene como o BRCA1. Em caso de síndrome hereditária confirmada, as possibilidades são a realização de cirurgia profilática, que consiste em retirar – preventivamente – o ovário e as trompas de falópio. “Como não há um método de rastreamento do câncer de ovário, como ocorre com a mama, que têm a mamografia e exames auxiliares, a Ooforectomia, procedimento cirúrgico indicado para remover um ou os dois ovários, é a melhor escolha”, ressalta Baiocchi.
CÂNCER DE OVÁRIO EM NÚMEROS – No mundo, o câncer de ovário é o oitavo câncer mais comum na mulher e dentre os tumores ginecológicos é o terceiro mais comum, com 324 mil novos casos anuais, estando atrás apenas do câncer de colo do útero e endométrio. No triênio de 2023 a 2025, são previstos 7.310 casos novos casos por ano, o que equivale a 6,62 casos novos a cada 100 mil mulheres, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Em termos de mortalidade no Brasil, ocorreram, em 2020, 3.920 óbitos por câncer de ovário.
De acordo com levantamento da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), cerca de 70% a 80% das mulheres diagnosticadas com câncer de ovário no Brasil morrem, por causa direta desta doença, em menos de cinco anos após o diagnóstico. Esse dado é reflexo, principalmente, da alta taxa de diagnóstico tardio no Brasil. Cerca de 80% dos casos de câncer de ovário são descobertos já em fase avançada da doença.
SINTOMAS DE ALERTA – Embora inespecíficos (podendo ser confundidos com outras doenças) e silenciosos na maioria dos casos, há sintomas que são importantes sinais de alerta de câncer de ovário.
- Inchaço frequente;
- Dor abdominal e pélvica;
- Cólicas;
- Pressão pélvica;
- Falta de apetite;
- Aumento da necessidade de urinar;
- Indigestão;
- Náusea;
- Dor nas costas;
- Constipação;
- Fadiga;
- Dor durante a relação sexual;
- Alterações no ciclo menstrual, como sangramento após a menopausa.
Esses sintomas ocorrem frequentemente em um grande número de mulheres com câncer de ovário. No entanto, é possível que sejam causados por outra condição. Para isso, é importante a avaliação com o ginecologista.
FATORES PARA O DESENVOLVIMENTO – Embora a hereditariedade seja um fator de risco, existem outros que podem aumentar o risco da doença. Similarmente ao que ocorre com a maioria dos casos de câncer de mama, os tumores malignos de ovário surgem, em cerca de 80% dos casos, por influência direta dos hormônios. Infertilidade e questões associadas com maior frequência de ciclos menstruais mensais como menarca precoce, menopausa tardia, nuliparidade (nunca ter tido filhos), dentre outras, assim como obesidade e tabagismo, são os principais fatores de risco.
Dentre os efeitos protetores estão o controle do peso, alimentação equilibrada e prática de atividade física, assim como o uso de contraceptivos por pelo menos cinco anos. Ter filhos, assim como a amamentação, também colabora na diminuição do risco de desenvolver algum tumor nos ovários.
TRATAMENTO PARA PACIENTES COM CÂNCER DE OVÁRIO – A indicação do tratamento depende se o câncer está confinado ao ovário ou se espalhou para tecidos próximos ou para outras partes do abdômen ou do corpo. A cirurgia e a quimioterapia – os tratamentos mais usados para o câncer de ovário – podem ser eficazes mesmo depois que a doença se espalhou.
Recentemente, novas opções de tratamento foram adicionadas, como terapias direcionadas ou biológicas. Por vezes, a cirurgia não é possível, noutras – como no caso de doença limitada ao ovário com bom prognóstico em doentes jovens – a cirurgia, sem posterior quimioterapia e a preservação do útero e do outro ovário podem ser suficientes e seguros. O tipo de tumor diagnosticado também pode determinar o tratamento.
Em casos de câncer de ovário avançado, a indicação mais comum é de histerectomia (remoção cirúrgica do útero e do colo do útero e a remoção de outro tumor que possa ter se espalhado para fora do ovário. Uma vez que o útero é removido, a mulher não pode mais engravidar.
Terapias mais recentes – Ao longo dos anos, mesmo para o câncer de ovário, medicamentos-alvo, como antiangiogênicos e inibidores de PARP, tornaram-se disponíveis. Estes últimos, especialmente para pacientes com mutações no gene BRCA, têm se mostrado muito eficazes como terapias de manutenção ao final da quimioterapia.
Atenção aos exames ginecológicos – Como dito, até o momento, não existem exames confiáveis para diagnosticar o câncer de ovário em seus estágios iniciais, antes do início dos sintomas da paciente. Mas exames de rotina e consulta regular com ginecologista podem ajudar a detectar o câncer. Entre os exames, estão os seguintes:
Ultrassom: uma pequena sonda pode ser inserida na vagina ou acima do abdômen, dando assim a possibilidade de ver perfeitamente se existe algum tipo de anomalia.
Tomografia computadorizada: esse tipo de raio-x capta imagens dos ovários e revela com mais precisão se há alguma anormalidade nessa área.
Laparoscopia: é inserido um tubo fino, quase como uma câmera, onde o médico consegue medir o tamanho do possível tumor.
Exames de sangue: além dos exames anteriores, é imprescindível fazer um exame de sangue. Estes testes permitem-nos saber se existem anomalias. Neste tipo de câncer é muito provável que as proteínas subam demais. Por isso também é importante que você faça um check-up frequente, pelo menos um exame de sangue por ano.
A detecção precoce e o tratamento imediato são importantes, portanto, fazer exames de saúde regulares e conhecer os sintomas são boas maneiras de se proteger. Infelizmente, não há um bom teste de triagem para câncer de ovário, especialmente para aqueles sem fatores de alto risco.
Dar visibilidade a esse câncer e informar sobre seus sintomas e abordagem para que a população em geral conheça e possa obter diagnósticos precoces é, hoje, a melhor prevenção. Por isso, é importante não esquecer de avisar o ginecologista se houve algum tipo de câncer ginecológico ou de mama em sua família, levar um estilo de vida e alimentação saudáveis, controlar o estresse no dia a dia, manter-se ativo e evitar a obesidade.
Sobre o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) – O EVA é uma associação sem fins lucrativos, composta em sua maioria por médicos, que tem como missão o combate ao câncer ginecológico. Seu time, multiprofissional, atua com foco na educação, pesquisa e prevenção, assim como promove apoio e acolhimento às pacientes e aos familiares.
A idealização e a organização do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos foram iniciadas pela oncologista clínica Angélica Nogueira Rodrigues, no Hospital do Câncer II do Instituto Nacional de Câncer (INCA). A primeira reunião ocorreu em 12 de março de 2010 e o nome Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos passou a ser utilizado a partir desta data.
A primeira reunião para nacionalização do grupo ocorreu no Congresso da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), em 2013, na cidade de Brasília. O nome EVA foi resultado de uma reunião neste evento e foi sugerido pela oncologista clínica, coordenadora da área de apoio ao paciente (advocacy) do grupo, Andréa Paiva Gadelha Guimarães. O ginecologista oncológico Glauco Baiocchi Neto é o diretor-presidente do EVA na gestão 2023-2024.