Márcia Mendonça Carneiro*
O câncer de mama é o tipo de câncer mais frequentemente diagnosticado e é a principal causa de morte por câncer em mulheres. Anualmente, desde a década de 1990, o câncer de mama ser tornou a vedete da campanha de conscientização sobre a doença numa tentativa de educar a população sobre o tema, além de apoiar as mulheres que a enfrentam.
Apesar de todos os esforços preventivos, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que em 2022 66.280 casos novos da doença serão identificados. A realização de mamografias em intervalos regulares é fundamental para a identificação de alterações precoces, mas o câncer de mama é uma doença multifatorial que exige outros cuidados.
Entre os fatores de risco para o câncer de mama estão a idade, a primeira menstruação antes dos 12 anos, menopausa tardia, primeira gravidez após os 30 anos, não amamentar, presença de mutações genéticas e fatores de estilo de vida, como tabagismo e excesso de peso corporal.
As recentes mudanças no estilo de vida feminino associadas às transformações socioculturais e econômicas contribuem para o adiamento da gravidez para depois dos 35 anos. Além disso, escolhas alimentares não saudáveis e inatividade física resultam em obesidade, que, de acordo com evidências científicas convincentes, estão associados a um risco aumentado de vários tipos de câncer, incluindo o de mama.
Embora a incidência do câncer de mama aumente progressivamente acima dos 40 anos, de 6% a 10% das mulheres acometidas estão abaixo dessa idade. Infelizmente, devido ao adiamento da maternidade que é cada vez mais comum, muitas ainda não terão tido filhos no momento do diagnóstico, enquanto outras ainda terão desejo de uma nova gravidez.
Os avanços obtidos em oncologia nos últimos anos melhoraram significativamente o prognóstico de mulheres com câncer de mama, mas muitos dos tratamentos usados, como a quimioterapia e a radioterapia, podem afetar significativamente a fertilidade dessas mulheres. A boa notícia é que há opções seguras e eficazes disponíveis para manter a capacidade reprodutiva para aquelas que assim o desejarem por meio do congelamento de óvulos/embriões, que pode ser feita de maneira segura nessas mulheres. Obviamente que a avaliação individualizada e especializada com equipes multidisciplinares é fundamental neste contexto.
Outra pergunta importante é se é seguro engravidar após o término do tratamento. Estudos científicos já publicados sugerem que a gravidez após o câncer de mama não aumenta o risco de recorrência da doença e, portanto, não deve ser “proibida” após a conclusão do tratamento.
Embora não haja até o momento nenhum método eficaz de prevenir o câncer de mama, é possível trabalhar para reduzir os principais fatores de risco evitáveis: tabagismo, etilismo, sedentarismo e obesidade. Dados recentes publicados pela American Cancer Society mostram que o tabagismo diminuiu, mas a incidência de obesidade continua alta.
Na verdade, lamentavelmente a obesidade pode em breve se tornar a causa número um de câncer. O problema chamou a atenção do World Cancer Research Fund, que publicou recentemente um relatório extenso com dados de pesquisadores de todo o mundo sobre a importância da dieta, da nutrição e atividade física na prevenção e tratamento do câncer de mama.
O documento confirma um papel causal razoável para a ingestão de álcool, aumento do índice de massa corporal (IMC) e ganho de peso durante a idade adulta no desenvolvimento do câncer de mama na pós-menopausa. Por outro lado, a amamentação e o fato de ser fisicamente ativa podem exercer um efeito protetor nas mulheres. Por isso, as recomendações incluem manter um peso saudável e manter atividades físicas, além de uma dieta com consumo limitado de fast food, açúcar e bebidas açucaradas, além de carne vermelha e processada.
Assim, a recomendação das principais sociedades de oncologia e medicina reprodutiva é que as mulheres sejam amplamente informadas e que oncologistas e especialistas em reprodução humana trabalhem em conjunto para oferecer a melhor opção que permita a preservação da saúde reprodutiva com segurança e eficácia para a manutenção da qualidade de vida destas mulheres.
* Márcia Mendonça Carneiro é diretora científica e especialista em Reprodução Assistida da Clínica Origen BH, além de doutora em Ginecologia e professora associada do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).