Dr. Paulo Matheus
Dedicação, estudo, proatividade e disponibilidade. Esses são alguns dos vários atributos que um profissional graduado na saúde precisa ter para mergulhar na árdua e gratificante área da reprodução humana como embriologista. Por trás da maravilha que é ajudar as pessoas a realizarem o sonho da maternidade e/ou paternidade, existe um caminho longo a ser percorrido. Um embriologista não se faz da noite para o dia. Não, com certeza não! A formação de um profissional da saúde habilitado a desenvolver atividades de reprodução humana dentro de um laboratório de fertilização in vitro é longa e perene.
A princípio, com o nascimento de Louise Brow (1978), momento no qual o mundo foi apresentado ao bebê de proveta por meio da tecnologia da fertilização in vitro, o trabalho do hoje conhecido embriologista sofreu e sofre mudanças. O sucesso de uma clínica de reprodução humana não se faz apenas com um tipo de profissional. O mercado exige o trabalho de uma equipe multiprofissional e, nesta, o embriologista tem um papel fundamental. Além dessa atuação profissional conjunta e codependente de outras áreas, o conhecimento do embriologista não se limita às ciências biológicas. É necessário e imprescindível entender sobre gestão de qualidade, pessoas, negócios, assim como ter o conhecimento de leis, informática e idiomas.
Em acréscimo às mudanças, ressalta-se, no decorrer dos anos, a disponibilidade e a agilidade na qual novos insumos, equipamentos e tecnologias são lançados. Inicialmente, os meios de cultivo eram preparados de forma manual, sendo os ingredientes pesados e misturados na bancada de trabalho – uma verdadeira alquimia. Hoje, temos uma gama de meios de cultivo e incubadoras disponíveis para uso. Tudo para conseguir mimetizar o ambiente in vivo e in vitro e alcançar a produção de embriões de qualidade.
Junto aos marcos históricos tem-se o advento da injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), que, de forma consistente, ampliou as oportunidades e englobou mais pacientes com vários tipos de indicação de infertilidade, fazendo com que o mercado econômico e interprofissional relacionado à área também crescesse, estimulando pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias ─ como a vitrificação de óvulos e embriões, a biópsia embrionária e o tão em alta time lapse.
O trabalho burocrático também tem um grande peso nas atividades diárias e precisa ser realizado em paralelo à rotina laboratorial. As informações de cada caso devem ser registradas, avaliadas e utilizadas para a validação de processos e a avaliação do trabalho individual e da equipe, além de precisarem ser reportadas aos órgãos reguladores.
O perfil daquele profissional que desenvolvia seu trabalho apenas na bancada do laboratório, que sofria e se regozijava solitariamente com o ônus e o bônus da sua função, sofreu várias mudanças. Não somos apenas coadjuvantes nesse processo; somos atores principais. Os pacientes que procuram um serviço de reprodução humana têm entendimento e conhecimento da existência desse profissional e solicitam um contato mais direto com ele.
Nos dias atuais, é exigida a nossa participação de forma efetiva na conduta do caso. Laboratorialmente, devemos ser capazes de opinar, sugerir e definir caminhos a serem seguidos para que o paciente tenha o seu tão sonhado bebê nos braços. Agir com ética, seguindo os princípios legais na execução do trabalho.
Quem pretende ser embriologista deve ter em mente que a dedicação é integral e ampla. A rotina laboratorial é rígida, com horários específicos e protocolos que devem ser seguidos criteriosamente. A sensibilidade e a precisão são fundamentais para não haver perda de material e para se alcançar resultados satisfatórios de gestação e nascidos vivos.
A preparação de um embriologista deve levar em conta as chamadas soft skills, ou seja, habilidades de relacionamento e comunicação que encontrem as expectativas do cliente, visto que a jornada do paciente que se submete a um procedimento de fertilização in vitro é longa. Atualmente, exige uma participação ativa e regular do embriologista nesse processo, que, além de desenvolver habilidade técnica, também precisa aprimorar sua inteligência emocional para reconhecer e avaliar os seus próprios sentimentos e os dos outros, assim como a capacidade de lidar com eles para compartilhar com os paciente boas e más notícias que surgirão durante o tratamento de reprodução assistida.
Outrossim, observa-se o crescimento de oportunidades de atuação do embriologista no mundo acadêmico, corporativo e até mesmo como empreendedor.
Vivenciamos a intensa e revolucionária evolução de ideologias e experiências nesta área em ascensão, e o embriologista não pode parar no tempo e no espaço. A evolução é constante. O crescimento na profissão é embasado em concessões, dedicação, comprometimento e paciência. Para evoluir na carreira, é preciso investimento financeiro e de tempo para estudar; deve-se fazer cursos de aperfeiçoamento visando alcançar um espaço no mercado de trabalho. São várias etapas a serem cumpridas para se avançar na função. A gestão da carreira tem início com o estágio; depois, passa-se a embriologista júnior, pleno, sênior, até alcançar o cargo de diretor ou proprietário de uma unidade de reprodução humana. Se dedicar, ser eficaz, dinâmico e responsável são peças-chave para alcançar um espaço e crescer nessa área restrita, nobre e gratificante, que tem como objetivo realizar um dos maiores e mais divinos sonhos de mulheres e homens: ter um(a) filho(a).
* Diretor técnico-científico do laboratório de fertilização in vitro da Rede Geare. Embriologista pioneiro na implantação dos laboratórios de reprodução humana no Brasil.