Setembro Amarelo: 129 milhões de pessoas desenvolveram depressão ou ansiedade durante pandemia

Transtornos mentais, como depressão e bipolaridade, são os principais fatores de risco para suicídios. Especialista fala sobre sinais de alerta que devem ser observados e como ajudar

As consequências da pandemia da covid-19 têm-se revelado preocupantes para a saúde mental da população. O Relatório Mundial de Saúde Mental de 2022, divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), revelou que, apenas no primeiro ano da pandemia, 53 milhões de pessoas desenvolveram depressão e 76 milhões tiveram ansiedade, totalizando 129 milhões, alta de 28% e 26% de incidência desses transtornos.

No Brasil, mais de 12 milhões de pessoas sofrem de depressão. O Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio, organizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria, é uma importante data para chamar a atenção para essa doença no país e no mundo.

De acordo com a OMS, o suicídio é a segunda principal causa de mortes entre indivíduos com idade entre 15 e 29 anos. “O suicídio é um tema sensível e uma triste realidade em nossa sociedade. A campanha Setembro Amarelo tem fundamental importância na conscientização sobre o assunto e na promoção da informação correta. E, principalmente, incentivar as pessoas que estejam passando por momentos difíceis a buscarem ajuda”, comenta a psicóloga da Fundação São Francisco Xavier, Gabriela Pinheiro Reis.

Fatores de risco

As principais doenças mentais associadas ao suicídio são a depressão, a bipolaridade e a esquizofrenia. A depressão existe em vários níveis, desde a mais leve à mais grave. Entre os principais sintomas estão: tristeza profunda, desânimo (dificuldade em realizar tarefas cotidianas, como levantar da cama, tomar banho, trabalhar) desesperança e baixa autoestima.

O transtorno da bipolaridade é caracterizado pela alternância de dois estados emocionais opostos, caracterizado por períodos de extrema tristeza ou intensa euforia, conhecido como mania. “Acredita-se que, se não fosse a fase depressiva da bipolaridade, uma pessoa não teria tendência suicida. Mas é ao contrário. Na fase depressiva ela não tem forças para isso. Já na mania, ela adquire essa força vital”, explica Gabriela Pinheiro.

A esquizofrenia é um distúrbio da mente dividida e é marcada por surtos em que o mundo real acaba substituído por delírios e alucinações. “Ela é considerada um fator de risco para o autoextermínio justamente pela questão de alucinações, delírios, quando o indivíduo ouve vozes ou vê coisas que podem leva-lo a cometer um ato fatal”.

Alguns sinais de alerta devem ser monitorados e observados com atenção. Um dos principais é quem já passou por uma tentativa anterior, pois, quem já tentou uma vez, pode fazê-lo novamente.

Outro sinal importante são as pessoas com discurso que remete a um vazio existencial. São indivíduos que vivem dizendo frases como “a vida não tem graça”, “não vejo sentido na minha existência”, “eu sou um peso para vocês”. “Esse tipo de discurso não deve ser ignorado por amigos e familiares”, alerta a psicóloga.

Como ajudar

As doenças mentais precisam ser encaradas sem preconceito. “Não é frescura. Depressão, bipolaridade e ansiedade são doenças que devem ser diagnosticadas e tratadas o quanto antes”, enfatiza a psicóloga Gabriela Pinheiro.

É importante sempre manter uma rede de apoio, formada por amigos e familiares, é a porta de entrada para outras medidas que devem ser tomadas. O próximo passo é procurar a ajuda de um especialista, o qual terá as ferramentas necessárias para ajudar as pessoas com transtornos mentais.

“É preciso ter esse olhar diferenciado, essa percepção de quando alguém próximo não está bem, está isolado, triste por muitos dias ou mesmo alternando entre tristeza e alegria. É preciso ouvir sem julgamentos, se colocar à disposição de forma empática, não desqualificar o discurso de dor do outro. É importante falar que está do seu lado e que pode contar para o que precisar. São atitudes simples para ajudar quem precisa a buscar auxílio profissional”, explica a psicóloga.

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