Educação em Saúde Reprodutiva como forma de ganhar cooperação dos pacientes

Não existe população mais saudável do que a mais educada. Porque informação é poder: é poder decidir o que é melhor para ela, para o marido e, em nosso caso, para o objetivo de cada casal.


A Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) diz que a média de tempo até um casal procurar ajuda para engravidar é de dois anos. Todos os profissionais que assistem casais que desejam ter um filho sabem que o principal fator prognóstico para engravidar é a idade. O peso da idade nas chances de gravidez é superior a qualquer outro fator que possa interferir na concepção de maneira natural. 

Milhares de pacientes procuram informações “na internet”, e só ao escrever esta frase já percebemos a presença do choque geracional. Nós, da geração X (nascidos dos anos 60 aos anos 80), estávamos (ou estamos) habituados a dizer “procura na internet” como algo super moderno. Nós somos parte da geração que conheceu as páginas amarelas, os anúncios no jornal e em revistas reconhecidas, aquelas que só alguns renomados profissionais tinham acesso para entrevistas e publicações, seja por um vasto conhecimento científico, seja por suas relações sociais, seja por poder econômico, mas eles eram nossa referência e a recomendação para cuidar da saúde de toda a família, afinal, tratava-se do “Doutor que cuidou da família por gerações”.

Mas a geração Y (meados dos anos 80 aos anos 90) e a geração Z (meados dos anos 90 a 2010), hoje nossos principais clientes, nasceram com a internet com acesso amplamente distribuído. Eles são os “nativos digitais”, entre os quais não existe nenhuma limitação para encontrar ou CONSUMIR informações “da nossa internet”. As páginas amarelas morreram e jamais conseguiriam concorrer com uma página web, perdão, com um “site” atualizado, interativo e com acesso direto ao WhatsApp da clínica.

Atualmente, a geração Y e Z, os nativos digitais, precisam e desejam informações rápidas, claras e facilmente disponíveis, e isso é o que nossa geração deve entender e aproveitar para educar nossos pacientes. Não existe população mais saudável do que a mais educada. Porque informação é poder: é poder decidir o que é melhor para ela, para o marido e, em nosso caso, para o objetivo de cada casal. Claro que o médico é quem decidirá o que é melhor para eles, mas imagine receber um casal que já foi informado, por exemplo, que devido a um fator masculino (criptorquidismo) teriam dificuldade para engravidar. Eles resolvem preservar os óvulos da esposa aos 33 anos e, se possível, avaliar e congelar os espermatozoides para uma injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) no futuro. Hoje, quanto essa paciente demora para chegar até o especialista? Como comentei anteriormente, a média de tempo para um casal procurar ajuda para engravidar é de dois anos, segundo a SBRA. Esse casal precisaria de todo esse tempo até consultar um especialista? É aqui que entra a nossa preocupação e a nossa possibilidade de AJUDAR MILHARES DE CASAIS que precisam desse suporte.

Hoje, com a facilidade de transmitir uma mensagem e sendo possível atingir milhares de pessoas a um custo praticamente irrisório, é de extrema importância focar a comunicação adequada para chegar ao casal que precisa da informação transmitida de maneira adequada ao seu entendimento.  

Uma comunicação efetiva não é apenas soltar um vídeo com muitos dados e informações para promover minha imagem de sábio; pelo contrário. Este é um ponto que toco quando converso com amigos profissionais e tento explicar e mudar esse conceito errôneo, porque, como se diz em inglês, “It’s not about you, it’s about them!” (Não é sobre você, é sobre eles!).

Então, precisamos cuidar do conceito para colocar aquele desconhecido paciente a nosso favor. Quando estamos na frente dele, podemos perceber se entendeu a mensagem ou não e explicamos novamente, mas quando nos comunicamos nas redes sociais, a comunicação precisa ocorrer de maneira efetiva e eficiente. “Não importa o que nós falamos ou escrevemos na mensagem do WhatsApp, o que importa é se a paciente entendeu o que nós precisávamos que ela entendesse”: essa é uma frase que não me canso de repetir para minha equipe. 

Assim como precisamos que a mensagem seja “eficiente” e não só suficiente, devemos pensar da mesma maneira quando desejamos comunicar nossa mensagem nas redes sociais, em grupos ou, mais complicado ainda, durante lives multitudinárias e com pessoas que não estão sob nossos cuidados, principalmente se sabemos que temos pessoas de locais isolados e sem possibilidade de contato com centros de atendimento que possam ajudá-las. 

Mensagens claras e pensadas com o objetivo de educar o casal, de diminuir o prejuízo da demora e diminuir a procura e o uso de terapias alternativas sem benefício nenhum, como pílulas milagrosas (que, por sinal, custam mais do que uma boa consulta particular) ou dietas que até podem ser úteis, mas são colocadas na frente das consultas médicas e de pesquisas básicas de fertilidade, ajudam os casais a evitar a perda de chances de concepção. 

Um casal que recebeu informação dos cuidados básicos necessários para melhorar suas chances de gravidez e logo percorreu o caminho de tentativas em casa durante 6 a 12 meses, chega em nossa consulta sabendo que o momento é o indicado, sem sentir que estão acelerando demais um processo natural, e sim se sentindo confiantes e preparados para percorrer o caminho acompanhado do especialista que o guiará para conseguir sua sonhada gravidez.

* Dr. Julio Voget é Diretor Médico da LUNOVA Fertilidade Humanizada.

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