Estudo demonstra que obesidade afeta o microbioma e impacta na fertilidade

Estudo aponta alterações no microbioma intestinal e reprodutivo que se relacionam com a infertilidade em mulheres obesas. Por outro lado, a predominância de Lactobacillus demostra papel no equilíbrio de bactérias saudáveis para otimizar os tratamentos de reprodução assistida

Pioneiro na investigação detalhada da composição de bactérias que habitam os tratos digestivo e reprodutivo em mulheres inférteis com obesidade, estudo – com contribuição, entre os autores, da Igenomix – aponta para a associação da obesidade e de alterações no microbioma com desfechos negativos nas tentativas de engravidar. O trabalho foi publicado em 23 de novembro de 2024 na revista cientifica International Journal of Molecular Sciences.

Neste estudo multicêntrico, observacional e prospectivo foram recrutadas 83 participantes com diagnóstico de infertilidade e diferentes índices de massa corporal (IMC) em quatro clínicas de reprodução assistida da Espanha. Foi avaliada a microbiota oral, intestinal, endometrial e vaginal de pacientes inférteis classificadas de acordo com o IM. Os perfis da microbiota foram analisados por sequenciamento do gene 16S rRNA.

Entre os achados, foi observada uma tendência para níveis mais elevados de gêneros como a bactéria Escherichia-Shigella em pacientes com normopeso. Em comparação, os pacientes com obesidade (IMC superior a 30) possuíam proporções aumentadas de Parasutterella e Roseburia. No trato reprodutivo, as amostras vaginais possuíam uma microbiota semelhante ao fluido endometrial, ambos amplamente colonizados por LactobacillusGardnerella e Streptococcus, apoiando a hipótese de que a colonização uterina decorre da ascensão de bactérias vaginais. Além disso, foi observada maior prevalência de microbiota endometrial dominada por Streptococcus (acima de 50%) entre pacientes com obesidade.

A conclusão é que as alterações no microbioma intestinal podem interferir no metabolismo hormonal, enquanto a presença de microrganismos patogênicos no endométrio pode criar um ambiente menos favorável à implantação embrionária. Por outro lado, os investigadores também concluíram que a predominância de Lactobacillus resulta em maior equilíbrio de bactérias saudáveis, o que otimiza os tratamentos de reprodução assistida. “O mérito do nosso trabalho está em ser a primeira descrição da microbiota do trato digestivo e reprodutivo humano em mulheres inférteis com obesidade que traz explicações sobre piores resultados reprodutivos”, destaca a médica Diana Valbuena, diretora médica da Igenomix e uma das autoras do estudo.

Virgínia Regla, biomédica especializada em imunologia da Igenomix Brasil, explica que embora a obesidade seja um fator reconhecidamente associado a piores desfechos reprodutivos, incluindo menor taxa de implantação embrionária e taxas de abortamento mais elevadas, o seu impacto tem causas multifatoriais, envolvendo alterações hormonais, inflamatórias e metabólicas. “E, nesse sentido, a influência do microbioma na fertilidade é um campo emergente, associado com problemas metabólicos, porém ainda pouco explorado nesse contexto, o que reforça a relevância do novo estudo”, afirma.

Implicações para tratamento de reprodução assistida: a partir dos resultados da pesquisa, os autores destacam três potenciais implicações na jornada de reprodução assistida, que envolvem prevenção (com probióticos e prebióticos), diagnóstico (avaliação do microbioma intestinal e reprodutivo) e tratamento personalizado:

  1. Avaliação microbiológica: Os resultados sugerem que a avaliação do microbioma intestinal e reprodutivo pode ser incorporada aos protocolos de reprodução assistida, especialmente em pacientes obesas.
  2. Personalização de tratamentos: A identificação de alterações microbiológicas específicas pode permitir tratamentos personalizados, melhorando as taxas de gravidez natural e sucesso de procedimentos como a fertilização in vitro (FIV).
  3. Intervenções preventivas: O uso de estratégias como a suplementação com prebióticos e probióticos, bem como a modificação da dieta, pode ajudar a restaurar um microbioma equilibrado antes do início dos tratamentos.

RESPOSTAS A PARTIR DO MICROBIOMA INTESTINAL E MICROBIOMA REPRODUTIVO

– MICROBIONA INTESTINAL – Ao analisar o trato digestivo, o estudo identificou algumas diferenças relevantes entre as mulheres obesas e normopeso:

  • Índice Bacteroidetes/Firmicutes: embora esse índice seja frequentemente associado à obesidade, não foram observadas diferenças significativas entre os dois grupos no presente estudo.
  • Composição específica: mulheres com IMC variando de 30 a 40 apresentaram maior presença de Parasutterella e Roseburia, enquanto mulheres normopeso tiveram maior abundância de Escherichia-Shigella. Essas diferenças sugerem que a composição da microbiota intestinal pode desempenhar um papel na regulação hormonal e metabólica das mulheres, uma vez que algumas bactérias entéricas, como a Roseburia, participam da modulação dos níveis de estrogênio do corpo. Contudo, mais estudos são necessários para confirmar esses impactos.
  • Diversidade do microbioma: de maneira geral, o microbioma intestinal das mulheres obesas mostrou menor diversidade bacteriana, um fator frequentemente associado a desfechos negativos na saúde geral e reprodutiva.

– MICROBIONA REPRODUTIVO – Em relação a microbiota do trato reprodutivo, os achados do estudo vão de acordo com a literatura. As microbiotas vaginal e endometrial apresentaram grandes similaridades, reforçando a hipótese da colonização endometrial pela ascensão de bactérias da microbiota vaginal.

  • Predominância de Lactobacillus: Em ambos os grupos, o microbioma vaginal e endometrial foi dominado por espécies de Lactobacillus, conhecidas por seu papel protetor na saúde reprodutiva.
  • Maior presença de Streptococcus em mulheres com IMC igual ou superior a 30: As pacientes obesas apresentaram maior prevalência de Streptococcus no endométrio, o que pode estar associado à inflamação crônica e a piores resultados reprodutivos, como menores taxas de implantação embrionária.
  • Diversidade reduzida: Assim como no microbioma intestinal, a diversidade bacteriana no microbioma reprodutivo das mulheres obesas também foi menor.

Análise do microbioma reprodutivo – A avaliação do microbioma endometrial é fundamental para compreender o ambiente uterino e sua influência na fertilidade feminina. Uma ferramenta avançada para essa análise são os testes EMMA&ALICE (Análise Metagenômica do Microbioma Endometrial e Análise da Endometrite Crônica Infecciosa), desenvolvidos pela Igenomix, parte do Grupo Vitrolife.

Os exames EMMA e ALICE são testes que analisam, por meio de biópsia (com coleta de material) a flora bacteriana do endométrio. O teste EMMA identifica a presença de bactérias como as Lactobacillus, que estão associadas a maiores taxas de gravidez, e outras bactérias patogênicas frequentes do trato reprodutivo superior; enquanto o teste ALICE detecta bactérias patogênicas responsáveis por causar endometrite crônica infecciosa, condição patológica que pode afetar a fertilidade feminina.

 

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