Os desafios e o planejamento da Reprodução Assistida para casais trans: a história de Igor e Luísa

Luísa, do sexo feminino, e Igor, não binário, estão juntos há quatro anos e compartilham nas redes sociais os passos para realizar o sonho de gerar um bebê. Igor terá os seus óvulos coletados e congelados; por meio da FIV, após escolherem um doador de sêmen, os embriões serão implantados em Luísa


No universo da Reprodução Assistida, são muitas as histórias que envolvem ter um filho. Medos, anseios, dúvidas e até mesmo preconceito ou falta de conhecimento dos profissionais da saúde. É o que Igor Sudano Barreto, de 30 anos, que se define agênero, e a sua esposa Luísa Aragon de Macedo Mendes, de 28 anos, têm enfrentado. Eles estão se preparando para ter seu primeiro filho por meio da fertilização in vitro (FIV).

No Brasil, 2,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais se declaram lésbicas, gays ou bissexuais. Os dados são da “Orientação sexual autoidentificada da população adulta”, divulgados pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa população, graças à inovação tecnológica e à dedicação dos profissionais, agora pode realizar o sonho de ter filhos. 

O casal, que mora no Rio de Janeiro, se conheceu em 2019, em um bar. Igor é cantor, bodypiercer, criador de conteúdo e DJ. Luísa é formada em Psicologia, trabalha com marketing digital e sempre teve o sonho de ser mãe. Ambos relatam que, desde o início do relacionamento, o diálogo sempre buscou estabelecer o que atendesse aos desejos dos dois. “Queríamos ter um filho, porém com uma idade que pudéssemos antes correr atrás de outros sonhos e chegarmos ao momento já estáveis”, explica Igor.

Na busca pelo sonho, preconceito

Para realizar o desejo de ter um filho, encontraram duas possibilidades: adotar ou recorrer à Reprodução Assistida. O casal teve bastante dificuldade para entender qual seria o melhor caminho e como fazer isso. Foi assim que chegaram a especialistas de referência em Reprodução Humana e optaram pelo procedimento. 

Na busca por esse sonho, em dezembro de 2022, Igor parou de tomar hormônios masculinos, para interromper a transição e, em breve, serem coletados os seus óvulos. Estes ficarão congelados, para daqui alguns anos ser realizado o procedimento de implantação em Luísa. Por isso o planejamento para que tudo ocorra da melhor forma possível.

O ginecologista e obstetra Caio Parente Barbosa, do Instituto Ideia Fértil de Saúde Reprodutiva, afirma que “o tabu envolvendo casais trans ainda é grande e o problema está na falta de acolhimento de qualidade para os casais”. A entidade tem um braço chamado Ideia Fértil Plural, no qual casais LGBTQIAPN+ podem contar com acompanhamento de profissionais capacitados, orientando cada passo. Por isso, reitera a importância do treinamento de profissionais, assim como a de vencer as barreiras e o preconceito. 

O que também é compartilhado por Igor é que “Profissionais da saúde lidam com pessoas. Eles precisam saber lidar com respeito com todo tipo de pessoa, então é necessário que se atualizem sobre essas questões sempre, para que seus pacientes se sintam seguros ao estarem se tratando com eles. O treinamento para atendimento ao público é essencial”.

Como funciona a Reprodução Assistida para casais trans

Para esse processo, o ginecologista e obstetra explica que as pessoas transgênero que optaram por tratamentos reafirmadores de gênero (cirúrgicos e hormonais) podem reduzir a fertilidade ou mesmo se tornarem estéreis como consequência deles. Por isso, costuma-se discutir a possibilidade antes do tratamento, ocasião em que são expostas e discutidas as diversas opções de preservação da fertilidade. 

“Na realidade, a Medicina Reprodutiva pode auxiliar esses casais de muitas formas. Uma das coisas mais importantes é a preservação da fertilidade para aquelas pessoas que vão fazer a sua transformação, ou seja, que vão fazer redesignação de sexo”, explica Barbosa. O especialista acrescenta que uma dúvida comum é sobre as consequências da hormonioterapia no processo reprodutivo.

Igor conta que, até o momento, o casal tem ganhado todo suporte no processo da Reprodução Assistida, e ambos estão cada vez mais seguros com a decisão. “Os médicos nos explicaram cada detalhe do que está acontecendo e do que ainda vai acontecer; eles têm se mostrado muito solícitos a todo momento. Isso nos deixa bem tranquilos”, comenta ele.

Uma das maiores dúvidas é sobre os hormônios: “A grande questão é que os hormônios que são utilizados no momento da suspensão levam um tempo para cessar”, fala o especialista. Por isso, atualmente, Igor está aguardando a testosterona reduzir para fazer a retirada dos óvulos.  A inseminação em Luísa deve ser realizada somente em 2025/2026.

Igor compartilha nas redes sociais todos os passos e revela que muitas pessoas escrevem para ele dizendo que desconheciam o processo: “Vejo que uma pessoa contando a sua história já abre um mundo para outras pessoas”. 

Enquanto não realizam o sonho de gerarem juntos uma criança, os dois seguem inspirando outros casais a também acreditarem que todo mundo pode sim formar uma família. 

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