Por que a infertilidade pode surgir depois de uma gravidez?

Especialista explica as principais causas, o caminho até o diagnóstico e os tratamentos disponíveis

A infertilidade pode ser caracterizada pela dificuldade que um casal possui para engravidar após um ano de tentativas, mesmo sem uso de métodos contraceptivos. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que cerca de 17,5% da população adulta, ou seja 1 em cada 6 pessoas em todo o mundo, sofre dessa condição[i].

Embora muito seja discutido a respeito da infertilidade feminina e masculina, e suas múltiplas causas, a infertilidade secundária é pouco debatida e se torna um tabu entre os casais.

A infertilidade secundária se manifesta quando um casal apresenta problemas para engravidar novamente após a gestação de um ou mais filhos. Desta forma o momento da assistência ao parto é importante, pois um parto seguro protege o aparelho reprodutivo. Doenças sexualmente transmissíveis, como por exemplo infecção por clamídia, podem alterar a permeabilidade das trompas uterinas e dificultar (ou até impedir) que a mulher engravide. A endometriose pode gerar aderências nas estruturas da pelve e comprometer suas funções. Ainda, alterações hormonais que podem interferir na ovulação, como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), alterações da glândula tiroidiana ou obesidade, estão entre as principais causas desse tipo de infertilidade em mulheres.[ii]

“Quando pensamos em pessoas que já engravidaram e agora não engravidam mais, podemos remeter isso à qualidade da assistência que essas pessoas tiveram, tanto no pré-natal quanto no parto, sendo o parto uma das etapas mais importantes, pois pode trazer consequências para as trompas uterinas e possibilidade de processos inflamatórios”, destaca Maria do Carmo Borges de Souza, ginecologista com área de atuação em Reprodução Humana e Ex-Presidente da Red Latinoamericana de Reproducción Asistida (REDLARA).

“Nos homens a infertilidade pode estar relacionada desde a fatores genéticos ou fatores introduzidos durante a vida, levando a problemas na produção e transporte dos espermatozoides. “Doenças sexualmente transmissíveis, problemas inflamatórios, excesso de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas podem causas efeitos na fertilidade a longo prazo”, explica Souza.

O casal deve realizar acompanhamento, em princípio com ginecologista e/ou urologista, para investigar a causa do problema. Como primeira e fundamental etapa desse processo, deve-se ouvir o que as pessoas têm a dizer, escutar as informações trazidas por elas e questionar hábitos de vida, uso de medicações, consumo de álcool, drogas lícitas/ilícitas e histórico familiar. “Para a mulher, a histerossalpingografia, exame para verificar a permeabilidade das trompas, assim como a avaliação da reserva ovariana são algumas das possíveis abordagens”, afirma a ginecologista. Para homens é primordial a realização de um espermograma, ainda que ele já tenha tido filhos.

O tratamento para a infertilidade secundária é possível por meio de técnicas de reprodução assistida, semelhantemente às adotadas na infertilidade primária, que ocorre em casais sem filhos. A melhor escolha irá depender diretamente da análise de diversos fatores.

“A indicação do tratamento vai depender sempre das idades, mas principalmente da idade da mulher”, ressalta a especialista. “Não podemos dizer que é impossível uma gravidez espontânea mesmo se há uma reserva ovariana e o espermograma está razoável, se as trompas estão normais ou há alguma permeabilidade.

A inseminação intrauterina, que é uma técnica de baixa complexidade, pode ser indicada antes do uso de técnicas mais complexas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro. A inseminação também depende do processamento do sêmen. Esse processo, feito em laboratório, vai selecionar e concentrar os espermatozoides de melhor qualidade e remover substâncias químicas e bactérias que podem prejudicar a fertilização. Para o sucesso do procedimento é fundamental que a mulher tenha pelo menos uma trompa pérvia e que sua pelve esteja em boas condições, sem aderências. “A expectativa não difere muito da chance normal de se engravidar quando tudo está bem, mas deixando claro para o casal que na inseminação não há como intervir na qualidade desse óvulo a ser fecundado, por exemplo”, reforça a ginecologista.

Como especialista, a médica salienta que esta questão temporal não deve ser minimizada pelo ginecologista/urologista. Buscar um atendimento mais específico, para se conversar sobre técnicas de reprodução assistida de alta complexidade, permite o atendimento individualizado, inclusive com procedimentos que possam minimizar perdas principalmente no primeiro trimestre da gravidez, que é agravante relacionado a gestações após os 35 anos de idade.

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