Com o avanço nos tratamentos e diagnósticos precoces, o número de mulheres que sobrevivem ao câncer tem aumentado significativamente. No entanto, os impactos da terapia oncológica sobre a fertilidade feminina ainda são pouco discutidos, mesmo sendo uma preocupação real para muitas pacientes em idade fértil. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 240 mil mulheres são diagnosticadas com câncer no Brasil todos os anos — muitas delas antes dos 40 anos.
Os tratamentos oncológicos, como a quimioterapia, a radioterapia pélvica e algumas cirurgias, podem afetar a reserva ovariana ou danificar diretamente os ovários, trompas ou útero. Isso ocorre porque essas terapias têm como alvo células de multiplicação rápida — como as células tumorais, mas também as células germinativas dos ovários. O risco de infertilidade varia conforme o tipo de câncer, o protocolo adotado, a dose e a idade da paciente no momento do tratamento.
“Diante desse cenário, uma alternativa cada vez mais considerada por especialistas e pacientes é a preservação da fertilidade por meio do congelamento de óvulos. Essa técnica consiste na coleta e no armazenamento de óvulos maduros antes do tratamento oncológico, com o objetivo de possibilitar uma gravidez futura, quando a mulher estiver recuperada”, explica o diretor médico da Ferring, Dr. Sérgio Teixeira.
O processo de congelamento de óvulos começa com a estimulação ovariana, feita por medicamentos hormonais que induzem o crescimento de múltiplos folículos. Após esse período, os óvulos são coletados por punção ovariana guiada por ultrassom, sob sedação. Os óvulos maduros são então congelados em nitrogênio líquido a -196 °C, por um processo chamado vitrificação, que preserva sua viabilidade por tempo indeterminado.
Caso a mulher deseje engravidar no futuro, os óvulos congelados podem ser descongelados e fertilizados com espermatozoides em laboratório, por meio da fertilização in vitro (FIV). Os embriões formados são cultivados por alguns dias e, se viáveis, transferidos para o útero. “Esse processo permite que muitas mulheres realizem o sonho da maternidade, mesmo após enfrentar um câncer”, comenta o diretor médico da Ferring.
As taxas de sucesso da fertilização com óvulos congelados variam de acordo com a idade da mulher no momento da coleta, a qualidade dos óvulos e a técnica utilizada, mas estudos apontam que, em mulheres com menos de 35 anos, as chances de nascimento vivo podem chegar a 40% por tentativa. “É importante lembrar que o congelamento não garante uma gestação futura, mas representa uma possibilidade concreta que deve ser considerada antes do início da terapia oncológica”, pondera Sérgio.
Além dos aspectos técnicos, há também questões emocionais e logísticas envolvidas — o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento costuma ser curto, exigindo agilidade na decisão. Por isso, é fundamental que oncologistas, ginecologistas e especialistas em reprodução assistida trabalhem de forma integrada, oferecendo informações e suporte à mulher nesse momento tão sensível.
“Falar sobre fertilidade durante o diagnóstico de câncer pode parecer secundário, mas para muitas mulheres, essa conversa representa a esperança de um futuro além da cura”, ressalta Sérgio. A preservação da fertilidade deve ser parte do cuidado integral da paciente oncológica, com respeito às suas escolhas e à sua saúde reprodutiva.