Rodrigo Hurtado*
Muitas mulheres não sabem, mas miomas uterinos, endometriose, síndrome de ovários policísticos (SOP), ciclos menstruais irregulares e problemas na tireoide podem atrapalhar as chances de desenvolvimento de uma gravidez saudável. Grande parte delas suspende os métodos contraceptivos – pílulas, injeções e preservativo – e não se dão conta de que a dificuldade na fecundação pode estar ligada a outros fatores.
Para se ter ideia, alimentação, fatores psicológicos e até climáticos podem influenciar nas chances de engravidar. Sem contar o fato de a mulher nascer com uma reserva de óvulos pré-determinada, o que tem a ver com suas chances, ao longo da vida, de desenvolver uma gravidez.
Em 2022, a Sociedade Europeia de Reprodução Assistida (ESHRE) revisou os protocolos de diagnóstico e tratamento para endometriose – uma das condições mais associadas à infertilidade feminina, chegando a ser diagnosticada em mais de 30% das pacientes que não conseguem engravidar. Fato é que não se sabe ainda se a endometriose é fruto de uma questão genética, imunológica, metaplásica ou correlacionada a outras doenças O que sabemos é que esta patologia é hormônio dependente, ou seja, sua atividade responde à produção do estrogênio, hormônio feminino mais prevalente entre a primeira menstruação e a menopausa.
Duas revisões interessantes no guia 2022 abordaram o diagnóstico da endometriose: uma delas abrange dois grupos de mulheres cujas faixas etárias não eram previstas antes – meninas que ainda não menstruaram e mulheres pós-menopausa. Esse aspecto levou o médico a ter um olhar mais ampliado do problema, que pode aparecer mais cedo do que imaginávamos e persistir pós período fértil, afinal, esta é uma doença que impacta a vida da mulher desde sempre. No caso das meninas
jovens nos deixa atentos, uma vez que um atraso no diagnóstico e início do tratamento pode chegar a 12 anos – um tempo inadmissível do ponto de vista de saúde pública.
Os casos de mulheres que apresentam miomas intrauterinos podem ser acompanhados por anos, sem necessidade de intervenção cirúrgica e sem afetar diretamente as tentativas de gravidez, mas cada caso é individual e deve ser avaliado e acompanhado por médico ginecologista que avaliará o que for melhor para sua paciente.
Já as mulheres que têm diagnóstico de SOP – disfunção hormonal pode levar a uma não ovulação mensal, com chances de se tornar crônica – merecem atenção, pois o problema afeta cerca de 20% das mulheres em idade reprodutiva. A SOP pode surgir logo após a primeira menstruação ou tardiamente, em resposta a algum gatilho hormonal relacionado com aumento da insulina ou ganho de peso. Embora a medicina não tenha um consenso sobre as causas da doença, nota-se que ela ocorre em maior frequência quando já há um caso anterior na família.
Alimentação sem regras, a partir de alimentos ultraprocessados, estilo de vida, sedentarismo, desenvolvimento de doenças como hipertensão e diabetes na juventude e contato com muitos fatores poluentes também podem impactar o organismo e dificultar as tentativas de gravidez.
Toda e qualquer mulher em idade reprodutiva que tem o sonho de ter filhos ou pretende adiar a maternidade em função do momento de vida em que se encontra deve estar atenta primeiramente ao seu bem-estar e à manutenção da sua saúde reprodutiva. Algumas dicas são fazer um exame ginecológico anual preventivo ao câncer de colo do útero; conversar com seu(sua) médico(a) de confiança sobre o tema; e, em casos específicos, procurar ajuda com especialistas em medicina reprodutiva, no caso de interesse por congelamento de óvulos.
Tratar as questões da saúde reprodutiva feminina do ponto de vista da prevenção e com informações qualificadas são pontos relevantes para o sucesso dos tratamentos que se fizerem necessários e para que as tentativas de gravidez tenham êxito quando assim a mulher achar que é o seu momento.
*Rodrigo Hurtado é médico ginecologista da clínica Origen e professor do Departamento de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)